O trabalho de Capoeira Angola da ACESA, na escola municipal de ensino fundamental, Rubem Costa Lima, vem se desenvolvendo desde o início do ano letivo de 2010, sob o regime de voluntariado, sendo coordenado pelo Treinel Ricardo Avelar. Alguns resultados parciais foram obtidos como a aquisição por parte dos meninos de uma gama de posturas corporais básicas, assim como um repertório de cantigas, todos relacionados a questões que remetem tanto a história dos povos de matriz africana no Brasil, como suas formas de pensar o mundo e produzir conhecimento.
Outro resultado foi a realização do I Seminário de Capoeira Angola e Educação de Macacos, realizado na escola, com a presença do Mestre João Angoleiro (Mestre da ACESA), da Secretária de Educação de Nova Lima, Ângela Lima e sua equipe, do Instituto Kairós, artistas, pessoas da comunidade, outros membros da ACESA e o corpo docente da escola. O evento proporcionou um contato entre o Mestre e as crianças da escola, estreitando as relações entre a Associação Cultural Eu Sou Angoleiro, Escola Municipal de Ensino Fundamental Rubem Costa Lima e Secretaria de Educação do município de Nova Lima. O encontro gerou ainda uma série de reflexões sobre as possibilidades de ensino aprendizagem de elementos da cultura de matriz africana no currículo escolar.
Momento de depoimentos que relacionavam militância política e prática educativa, a roda de conversa apontou para um estreitamento de relações entre as entidades presentes em prol da implementação da lei na escola, sendo um momento de reflexão e prática, de musicalidade, contação de história, canto, expressão corporal. Para Teixeira, referindo-se a uma outra roda de conversa no mesmo formato (2010,p.92):
o que se torna explícito neste formato de mesa redonda, que eles costumam chamar de roda de conversa é a manifestação de uma tradição de motriz[1] africana que não dissocia da fala o corpo, do corpo o canto, do canto o toque e que se dá através do contato direto entre Mestre-discípulo.Trata-se de um lugar onde se valoriza a memória e a escuta como fontes de sabedoria.
Após alguns séculos de descaso com relação à cultura trazida pelos africanos para o Brasil, a lei 11.645 se apresenta como uma iniciativa que obriga a partir de então todo estabelecimento de ensino fundamental a mostrar as contribuições de todas as matrizes culturais que formaram a sociedade brasileira. Contudo, uma questão prática deve ser levantada com relação a implementação da lei: se não é na escola que ficaram guardados os saberes destes povos, assim como sua história, onde deve-se buscar a referência para a aprendizagem e valorização dessa cultura?
Este é um desafio que se apresenta aos atuais educadores, nas escolas. Por outro lado, as comunidades em geral, nos mais diversos pontos do país, mantém nas suas tradições populares as práticas de danças, cantos, histórias (e mais ainda, de uma forma de se portar no mundo), que apontam as pistas para o caminho a ser percorrido, quando se pretende compartilhar das culturas de matriz africana e indígena.
O trabalho da Capoeira Angola na escola municipal de Macacos traz um conhecimento popular para dentro do currículo, dialogando com as disciplinas da escola, experimentando a implementação da lei em questão, num processo de construção de nova metodologia que pretende aliar conhecimentos populares e formais para a formação educacional de pessoas que terão um comportamento social pautado na equidade racial.
Carmem Pricila
[1] Dialogo com o pensamento de Zeca Ligiero que usa o termo motriz no lugar de matriz como forma de fugir a uma nostalgia de um paraíso perdido e que ressalta o aspecto de potência criadora mobilizada pelas forças ancestrais.