terça-feira, 15 de novembro de 2011
segunda-feira, 18 de julho de 2011
Reflexões sobre o processo educativo na Capoeira Angola
Quando comecei a praticar Capoeira Angola dentro da ACESA, Associação Cultural Eu Sou Angoleiro, a primeira coisa que me chamou atenção foi o silêncio que reinava no espaço. Lembro-me como se fosse hoje do meu primeiro dia na associação.... Cheguei a uma salinha de três por três no décimo segundo andar de um prédio no centro de Belo Horizonte, o mestre João estava sentado só, folheando uma revista ou um livro. Com a cabeça ele indica o assento ao seu lado e eu sem entender bem onde estava simplesmente sentei. Passou mais um tempo e um rapaz mais ou menos com minha idade chegou, não se sentou, de imediato pegou uma vassoura e começou a limpar o chão. Um homem, já mais velho chegou logo em seguida, pegou um balde, encheu-o de água e começou a regar as plantas. E a cada instante mais um chegava e nenhum ficava à toa, todos faziam algo pelo lugar. Esse foi meu primeiro espanto: a quantidade de coisas pra se fazer num espaço tão pequeno.
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Preparativos para mais uma roda de sábado no espaço da ACESA na Rua da Bahia, 570 - 12ºandar - centro |
Com toda a casa limpa, incensada, com os instrumentos afinados e vários tocadores já tocando, os outros que já haviam acabado suas tarefas, junto com os que ainda chegavam sentavam no entorno da sala, mantendo seu centro livre. Ninguém conversava. De repente, o mestre que no meio da arrumação havia sumido, reaparece, pára no meio da sala, levanta as mãos e canta emocionadamente:
Eu vô lê o abc,
pra jugá cum vozmicê,
meu camará...
Iê aruandê.
Iê aruandê camará
Todos que estavam na sala responderam em belo coral. Eu que no meio da arrumação fui mudado de lugar várias vezes, estava sentado no chão junto aos outros, sem saber ao certo o que fazer. O mestre no meio de uma cantoria aponta as duas mãos para um rapaz que imediatamente começa a entoar os versos que ele cantara primeiro. Com dois passos pra frente o mestre desce seu corpo de cócoras com as mãos postas como em oração, todos a exceção de mim, naturalmente se levantaram, acharam um lugar onde se sentissem confortável e elaboraram o mesmo movimento. Nesse dia, fui embora sem entender muita coisa. Um mês depois voltei e me estabeleci lá fazendo parte hoje do quadro de bases da ACESA. Anos mais tarde relacionei esta vivência com a fala de Antonio Carlos Gomes da Costa, no curso Educação Interdimensional do Ser Humano, realizado na Associação Querubins, em outubro de 2003, na qual ele afirma que “o exemplo não é a melhor forma de se educar, é a única”.
Quando assumi no ano passado, as aulas da unidade Nossa Casa Escola Integrada, na ONG Corpo Cidadão, deparei-me com um desafio: os educandos eram crianças. Já havia trabalhado com crianças tanto no Corpo Cidadão quanto na Associação Querubins, mas em turmas heterogêneas, compostas de adultos, adolescentes, idosos e crianças. Era a primeira turma que eu trabalharia, composta só de crianças, entre sete e oito anos, contando cinquenta meninos ao todo. Algo revirou dentro de mim.
Educandos do Nossa Casa brincando |
A Capoeira Angola quando trabalhada com jovens demanda muita disciplina, e depois que a energia é descarregada com muito trabalho físico, a palavra acontece. Mas naquela turma só de crianças eu não sabia o que fazer. Nem eu, nem eles. De um lado se era minha primeira experiência como educador de Capoeira Angola para crianças tão pequenas, por outro lado era a primeira vez deles em várias descobertas perante a vida, e eu muito provavelmente acompanharia algumas delas.
No primeiro dia achei que não sobreviveria. Todos enlouqueceram no projeto. Educandos não sabiam o que fazer, educadores muito menos. Quando enfim conseguimos separar as turmas a situação piorou, eu estava sozinho com um grande grupo.
Um dia, diante daquele corre corre, lembrei do meu primeiro dia na ACESA, então levantei, peguei uma vassoura e comecei a varrer a sala, não pedi para que me ajudassem, ia varrendo e pedindo licença. Fiz isso durante a aula inteira, como eles não paravam de correr na sala, a poeira sempre voltava e eu voltava a varrer até que uma vozinha interviu, dizendo:- Ou, o fessôr ta varrendo a sala, mas não adiantou muito, contudo era um sinal de que alguém tinha me notado. Eu ia dando seqüência ao dia e enquanto a primeira turma ia para outra aula, eu arrumava os instrumentos e começava a tocar. A segunda turma chegava e começava o corre corre, de repente um parava e ia tocar aí eu dizia que se ele tocasse o instrumento ele teria que ficar tocando até o fim da aula. Os que pegavam, largavam logo em seguida e rapidamente voltavam para tocar de novo, nessa hora eu dizia que eles não poderiam tocar mais, porque eles haviam largado o instrumento. Por vezes me responderam sorrindo, e daí?, e eu respondia, daí que é assim. Se alguém me respondesse isso quando eu era criança com certeza eu não me contentaria, mas eles não queriam escutar explicações.
Educandos do Nossa Casa limpando a sala para aula de Capoeira Angola |
Uns dias eu tocava, outros me movimentava, mas a limpeza do espaço e organização dos instrumentos eram (são) práticas diárias. Claro que por vezes falhamos.
Um dia alguém estava varrendo comigo e duas vozezinhas já defendiam o espaço. Alguns já tocavam durante toda a aula e vários já faziam os movimentos corporais. Os vínculos criados eram os mais diferentes, fazendo com que eu percebesse o óbvio, cada um tinha sua própria historia e certamente, mesmo utilizando as mais variadas metodologias, as particularidades e complexidades de cada ser humano geram sempre uma possibilidade de não adequação exigindo do educador flexibilidade para reinventar a prática educativa. Sendo assim cabia a mim enquanto educador, a disposição criativa de tornar nosso momento, a aula de capoeira, prazerosa a todos.
Observei o quanto a rotina era importante, buscando porém respeitar o momento e a vontade do outro. Se o educando não queria tocar, cantar, movimentar, limpar, o que ele poderia fazer? Pastinha disse: ninguém joga do meu jeito,mas no jeito de cada um existe um pouco da sabedoria que um dia eu aprendi. Isso vale no processo de aprendizado técnico da capoeira angola e como a capoeira se mostra na roda. Nós praticantes enxergamos esta roda como uma forma de representar nossos valores, individuais e sociais, além de nossos sentimentos, portanto eu deveria repassar esse conceito à própria vida. Sendo assim havia o momento de tudo, inclusive do ócio. Fizemos o combinado de conversar sobre o que seria feito no dia para que evitássemos possíveis desencontros. E assim seguimos.
Com o tempo não havia mais espaços vazios. Todos tinham sua função e todos passaram a ter condição de cumprir qualquer função. E no dia que marcamos nossa primeira roda do ano isso se mostrou bem construído, um momento atípico, noite, apenas um educador e as crianças e para minha surpresa não houve problema algum.
Roda de Capoeira Angola no Nossa Casa |
Creio que quando pensamos em educação devemos entender que ela se instalará em todas as vidas, por toda a vida, sempre estaremos nos transformando e sempre estaremos elegendo referências que nos mostraram caminhos diversos que poderão ou não nos realizar. Devemos entender que as práticas devem fazer sentido, porém esse sentido pode ser diferente do que o educador pensa e independente disso, deve ser respeitado e valorizado como mais um forma.
A ritualização de todos os momentos contribui para que isso aconteça. Transformamos obrigações como limpar a sala, em desejos, a Capoeira Angola.Ricardo Avelar
Revisado por Carmem Pricila
Revisado por Carmem Pricila
sábado, 9 de julho de 2011
Missoshiro de nabo
Lave e corte 70gr de nabo de forma obliqua, em fatias de 3mm.
Cozinhe o nabo fatiado em 5 copos de água.
Dissolva 80gr de missô e bom apetite!
sexta-feira, 8 de julho de 2011
Memória Ancestral
A ONG Corpo Cidadão em parceria com a ACESA faz um trabalho com a Capoeira Angola direcionado a crianças de 7 a 12 anos da Escola Municipal Vila Fazendinha. Além da Capoeira Angola, os educandos são contemplados com aulas de Dança Contemporânea, Dança de Rua, Artes Visuais, Música e Percussão.
Todos os anos trabalhamos com um tema que direciona as atividades. Esse ano foi decidido o tema memória, e dentre as várias atividades ocorridas em torno dele, estamos realizando a Roda da Memória Ancestral. Um momento de escuta dos mais novos às historias dos mais velhos. Estamos convidando mestres populares que se reunirão conosco dia 14 de julho, quinta feira às 8:45hs e nos contarão de suas vivências.
Teremos também apresentações musicais dos educandos do Nossa Casa Sob regência dos Educadores Cristiano Souza e Antonio Carlos, o coral dos educandos da Escola Municipal Rubem Costa Lima num trabalho em parceria com o Instituto Kairós sob regência das educadoras Eda Costa e Wania Gregório.
Uma exposição dos educandos de artes visuais do Nossa Casa sob coordenação da educadora Silvia Aroeira.
O encontro encerrará com uma Roda de Capoeira Angola coordenada pelo mestre João Angoleiro da ACESA.
Sejam bem vindos!!!
sexta-feira, 1 de julho de 2011
CREME DE ARROZ INTEGRAL (À PRESSÃO)
- 8 copos americano de água
- 1 colher de chá de sal marinho
Lave o arroz e escorra a água.
Coloque o arroz na panela de pressão e acrescente água. Cozinhe-o em fogo forte. Quando a válvula chiar, deixe em fogo brando durante 40 a 50 minutos. Apague o fogo e, sem mexer na válvula, espere a pressão baixar. Passe numa peneira. Salpique gersal sobre o creme e bom apetite.
A Película que fica na peneira pode ser usado na confecção de pães.
quinta-feira, 30 de junho de 2011
quarta-feira, 29 de junho de 2011
domingo, 22 de maio de 2011
domingo, 1 de maio de 2011
Em dois meses, muito se trabalha
Voltamos às aulas ainda sem coordenador. Fernanda e Márcia disseram que iam se revesar no nosso acompanhamento. Mesmo assim um clima de desconfiança com relação a não continuidade dos tumultos de 2010.
Havia uma proposta entre os educadores de transformação, principalmente com relação à roda de acolhimento. Logo no inicio do ano, Fernanda levou o Rogério para visitar o projeto. Foi uma boa visita, pudemos registrar várias brincadeiras e decidimos começar as rodas sempre assim, brincando. Passamos a receber aos educandos com cantigas como Periquito Maracanã já na porta do projeto. Percebemos com isso que não havia espaço para tumultos. Todos começam a cantar já na porta e a própria cantiga monta a roda. A roda de capoeira durante as rodas de acolhimento já está introjetada no grupo, no som do berimbau a roda se forma. Apareceu também uma contação de histórias de terror, o que pra mim foi especial já que me lembrei de alguns contos de assombração passados a mim pela minha avó. Agora o ponto principal para as coisas começarem a melhorar foi não se preocupar tanto com a participação de todos na roda.
Jacaré Boiô |
A Raposa |
Trilha sonora das brincadeiras |
A eterna Caveira |
Outro ponto fundamental para que o dia tenha se tornado agradável e as aulas produtivas, principalmente as do segundo horário dos dois turnos, foi com certeza o lanche entre as aulas.
Comer junto é bão |
Uma das lições da capoeira é o zelo pelo espaço, sendo assim no inicio de cada aula, nada de moleza, cada um limpa um pouquinho.
Retomamos os treinos relembrando as bases e as movimentações mais primarias.
Jogo de mão |
Ginga |
Postura básica |
Porém, antes de retomarmos a parte técnica, no primeiro dia perguntamos aos educandos o que eles esperavam das aulas de Capoeira Angola em 2011:
- O Eric e o Renildo disseram prontamente não saber.
- Cauã diz animado que quer ficar forte, quer apresentar e quer que o grupo se fortaleça.
- Alice Miranda diz querer aprender a brincar.
- O Jeferson diz que quer o almoço.
Falamos um pouco sobre o tema memória. Fizemos um ping-pong com a palavra memória. O que viria na cabeça dos educandos no momento em que escutassem essa palavra, a primeira coisa. As respostas, as mais variadas: memória é o nosso corpo, é de pensar, é de lembrar, não esquecer, serve pra estudar, é um jogo, para trabalhar, pra saber onde estão as coisas escondidas.
Recebemos a noticia que Rogério seria nosso novo coordenador.
Dentro de nossas intenções no trabalho da memória, imaginamos trabalhar alguns textos com os educandos, para entrar nesse universo literário, começamos pelas vogais, aí a primeira descoberta à maior parte deles não sabia o que eram as vogais. Vários deram como exemplos consoantes. A segunda dificuldade foi localizar essas vogais no próprio nome. Isso também sendo resolvido, começamos a cantar nossas vogais num ritmo indígena, dançando por toda a sala marcando o ritmo com passos firmes no chão.
Marcando o passo |
Tivemos então a idéia de trabalhar a escrita e um intercambio com os educandos de Capoeira Angola de Macacos, da E.M.Rubem Costa Lima, criamos então o correio angoleiro. A primeira parte foi apresentar a idéia.
No Nossa Casa (NC), começamos com as turmas de capoeira. A primeira turma aceitou a proposta muito bem, assim com as turmas da tarde. Apenas a segunda turma não fez a atividade por uma questão de tempo. Ainda estamos com uma certa dificuldade com a divisão dos horários no turno da manhã.
Uma primeira constatação com relação aos educandos do NC é a dificuldade na escrita. A maior parte dos educandos apresentou muita dificuldade em escrever, tendo até mesmo alguns que só conseguiram fazer com a ajuda ou dos educadores ou de educandos mais preparados nesse sentido.
Outro fato que constatamos é que vários educandos negros, não se identificam como tal, caso do Wendel que preencheu o rascunho do perfil assim: “Eu sou ato sou: moreno eu teio anos 11 eu gosto de namora”.
Quando pensamos em letramento, não estamos pensando apenas no ato de escrever ou ler, mas também na capacidade de transmitir idéias através da palavra escrita. Algumas surpresas sempre aparecem como o Alexsander de 11 anos, garoto que praticamente não faz oficina alguma, vive calado, no canto dele e quando aparece é sempre metido em alguma confusão. Na hora de escrever além de formular muito bem os pensamentos enquanto escrita, praticamente não teve erros ortográficos. “Nome: Alexsander, Idade: 11. Quem sou? Sou magro moreno cabelo curto alto eu gosto de futebol de musica capoeira de brincar de pega-pega é esconde esconde e varias brincadeiras legais beijos...”
As inseguranças foram ditas com enorme tranqüilidade, mesmo eles sabendo que no fim aquele material seria divulgado para pessoas que eles não conhecem. O Erick de 12 anos escreveu, por exemplo, no item gostos. “ Gosto de futebou, não sou guei, eu me entendo com as pessoas. fim.” Embaixo disso ele, um garoto negro, desenha um garoto branco que ele diz ser ele.
A auto-estima daqueles cujo lar possui uma estrutura que prima pelo afeto fica muito evidente, Ana Luiza Miranda de 8 anos se descreve assim. “Sou meia alta uso óculos tenho cabelo grande e preto e sou linda.”
Os mais novos, demonstram muita dificuldade, na formação das palavras, na transmissão das idéias e na organização da escrita no papel. Maycon Gonçalves de 7 anos por exemplo escreveu todo seu texto como se fosse uma única palavra. “Maycongonçalves idade 7 anos olatudobei Quem sou baixosougordinhosou um menino eogostodebrinca r de esqueite.” Os espaços entre as palavras que coloquei são na verdade o limite da linha de escrita dele.
Dada as dificuldades já apresentadas, alguns com domínio do letramento em si fizeram copias do exemplo que Carmem deu com sua ficha.
Alice Miranda de 7 anos, além de desenvolver bem a escrita e o pensamento na forma de escrita, ainda se dispôs a ajudar vários de sua turma e parou no Renildo também de 7 anos que com muita dificuldade escreveu apenas “Renildo”.
O rascunho do perfil dentro da Ruben Costa Lima (RCL) foi muito divertido. Toda a escola abraçou a idéia do correio com muita vontade. Ana Cristina, professora do quarto ano disse que iria confeccionar a caixa de correio assim como os envelopes junto com os educandos. As crianças da RCL apresentam um letramento muito mais avançado em todos os sentidos do que os educandos do NC. O que aponta certas contradições: A estrutura física e de instrumentos da RCL é consideravelmente menor que da Escola Vila Fazendinha, que atende as crianças da NC. Outro ponto é o nível de articulação dos educadores das escolas. Os responsáveis pelo trabalho da RCL possuem uma formação bem mais modesta que os educadores da Vila Fazendinha. A maior parte dos pais de educandos da RCL não possui letramento o que mostra que a escola realmente se preocupou com esse conteúdo.
Perfis |
Encerrando o mês de março, marcamos a primeira roda de Capoeira Angola do ano. À tarde que antecedia a roda havia sido marcado uma reunião que ao invés de teorizarmos, resolvemos fazer. Pintamos parte do espaço.
Da desordem nasce o belo |
Até o Wesley apareceu |
Aí veio o temporal... que durou e durou... |
A noite chegou e a luz do morro apagou, víamos de longe apenas as luzes do asfalto |
E com luz de velas, cumprimos nosso compromisso |
Um dia familiar, pais, mães, irmãos, primos, gente que já esteve e gente que ainda está. Alice Miranda não havia ido à aula pela manhã, estava com bronquite. A noite, com a falta de luz, ela diz a mãe “Vamos pra capoeira, lá vai tá melhor.” (Relato da mãe). Com o peito chiando, ela já entra na roda com toda a alegria.
Todos levaram algum alimento para partilhar no final.
Resistência...Axé!!! |
Ricardo Avelar
sexta-feira, 22 de abril de 2011
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